quarta-feira, 27 de abril de 2011

Os Yamas

Yamas


Ashtanga Yoga – As oito Partes do Yoga



Sutra 2.29: Oito partes da disciplina do Yoga



Yamaniyamasanapranayamapratyaharadharana-
dhyanasamadhayo’stavangani

Yama: restrições, controle, disciplina;
Niyama: regras fixas, autocontrole;
Asana: posturas físicas
Pranayama: controle da respiração;
Pratyahara: abstração dos sentidos;
Dharana: concentração;
Dhyana: meditação;
Samadhi: êxtase;
Asta: oito
Angani: partes.

A disciplina, o autocontrole, as posturas, o controle da respiração, o recolhimento dos sentidos, a concentração, a meditação e o êxtase são os oito membros (do Yoga).


Sutra 2.30: Os cinco Yamas
Ahimsasatyasteyabrahmacharyaparigraha yamah

Ahimsa: não-violência;
Satya: Verdade;
Asteya: não-roubar, honestidade;
Brahmacharya: castidade, abstinência sexual;
Aparigraha: não-cobiçar, não possesividade,
Yamah: restrição, disciplina.

A não violência, a verdade, não roubar, a castidade e não cobiçar são as disciplinas.


Sutra 2.35: Frutos de Ahimsa


Ahimsapratisthayam tatsamnidhau vairatyagah

Ahimsa: não-violência;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
tatsamnidhau:
Vaira: hostilidade
Tyagah: renúncia, abandono.

Estar firmemente estabelecido na não-violência, toda a hostilidade se acaba (renunciada) em sua presença (yogin).


Sutra 2.36: Frutos de Satya

Satyapratisthayam Kriyaphalasrayatvam

Satya: Verdade;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
Kriya: ação;
Phala: frutos, resultado;
Asrayatvam: embasado, bases.

Estar firmemente estabelecido na verdade, as ações resultam em frutos, inteiramente passam a depender disto (da sua vontade).


Sutra 2.37: Frutos de Asteya

Asteya pratisthayam sarvaratnopasthanam

Asteya: não-roubar, honestidade;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
Sarva: todo;
Ratna: jóias, tesouros;
Upasthanam: apresentam-se.

Estar firmemente estabelecido em não-roubar, todas as jóias surgem (à frente do yogi).


Sutra 2.38: Frutos de Brahmacharya


Brahmacharyapratisthayam viryalabhah

Brahmacharya: castidade, abstinência sexual;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
Virya: vitalidade, indomável coragem;
Labhah: ganha, adquirida.

Estar firmemente estabelecido no celibato, ganha-se grande vitalidade.


Sutra 2.39: Frutos de Aparigraha



Aparigrahasthairye janmakathantasambodhah

Aparigraha: não cobiçar, não possesividade,
Sthairye: tornando estável;
Janma: nascimento;
Kathanta: como e de onde;
Sambodhah: conhecimento.

Estar firmemente estabelecido no não-cobiçar, o conhecimento surgirá de onde verificaram seus nascimentos.


Yamas – Restrições, Controle, Disciplina

Yama significa controle ou domínio e é composto por cinco orientações. É o código da conduta ética e moral que orienta o nosso comportamento em relação a nós mesmos, ao ambiente interno e externo, e para com toda a forma de existência. Tem origem no interior do ser humano e são um reflexo da consciência. São pré-requisitos para o trabalho espiritual, sem os quais não é possível aquietar a mente e atingir a alma. Para vivenciar Yamas é requerida tremenda disciplina interior onde o “EU” é trabalhado durante toda a vida lembrando-nos sobre nossas responsabilidades como seres sociais. Yama é um dos pilares do Yoga sustentando todos os requisitos para um trabalho espiritual.

Iyengar diz que Patanjali mostrou através dos Yamas como superar nossas fraquezas psicológicas e emocionais, e que espiritualidade não é encenar o papel de sermos sagrados, mas a paixão e o anseio internos de auto-realização e a necessidade de encontrar o derradeiro propósito da existência. Yama também significa “Deus da Morte”, e se não entendermos e seguirmos os princípios de Yamas, agimos como assassinos da alma.

Os Yamas

1. Ahimsa – Não Violência, não agressão
2. Satya – Verdade
3. Asteya – Não roubar
4. Brahmacharya – Castidade ou celibato
5. Aparigraha – Não cobiçar


1. AHIMSA – Não-violência

Entende-se como não matar, não agredir, nem causar nenhum tipo de dor a nenhum outro ser vivo. Mais do que não machucar o outro, o princípio da não violência é também evitar o mal contra si mesmo. Como por exemplo: não comer, beber, ou trabalhar demais, além de não ser violento com gestos palavras e olhares. A violência, segundo Patanjali, também é praticada quando se tem pensamentos negativos ou ao desejar que algo ruim aconteça com o outro. Esse princípio passa também pela transformação das emoções; não é responder o ódio com ódio, mas aprender a lidar com os sentimentos.

Neste preceito desenvolve-se a compaixão por todas as criaturas. No Mahabharata, um grande épico da literatura indiana, é mencionado que: “Eis a súmula de todo o dever: não faça aos outros que, se fosse feito a você, lhe causaria dor”. Paramahansa Yogananda disse que: “deve-se enxergar a bondade até no inimigo... agindo assim, você se livra do maléfico desejo de vingança que destrói sua paz mental. Plantando rancor sobre rancor, ou ódio em troca do ódio recebido, não só você aumenta a hostilidade do inimigo a você, mas se envenena física e emocionalmente com sua própria peçonha”.

Grande exemplo de devoto de Ahimsa foi Mahatma Gandhi (1869-1948), que libertou a Índia do domínio Inglês utilizando a estratégia de não-violência. Outro exemplo nos dias de hoje é XIV Dalai Lama, que sofrendo violentas e fortes ameaças da China, tem se destacado em todo o mundo transformando o Budismo Tibetano uma Religião mais conhecida e ganhando novos adeptos em todo o mundo. No ashram de Patanjali a vaca e o tigre poderia viver, comer e beber juntos porque ahimsa é praticado pelo grande sábio.

A prática do perdão auxilia no desenvolvimento de ahimsa; a prática de ahimsa desenvolve amor, e cultivar amor se dissipa himsa (violência). Ahimsa é outro nome para “verdadeiro amor”, onde existir amor existirá ahimsa. Este é o supremo dever do ser humano.

B.K.S.Iyengar explica que: “na execução de um asana, você está alongando mais o lado direito que o esquerdo. Um estado não ético está se formando em seu corpo. No lado direito há violência, pois você está indo mais longe; no esquerdo, em que o alongamento da postura é menor, parece não haver violência. Do lado direito você está sendo violento porque está dizendo: “faça o máximo que puder, estique tudo que conseguir!”. É violência pois está exagerando no alongamento. O lado esquerdo, que você não está forçando tanto, talvez traga a idéia de que não está ocorrendo violência. Mas o praticante inteligente de Ioga, observa que está conscientemente violento de um lado e inconscientemente violento do outro, e ao mesmo tempo. Com o lado direito é mais capaz e se estende mais, você está fazendo bom uso das células deste lado, o que não acontece com o lado esquerdo. Embora possa parecer não-violento, isso também é uma agressão, uma vez que as células morrem quando não realizam suas funções adequadamente. Assim, um lado manifesta uma violência deliberada e o outro não. (...) É preciso integrar os lados direito e esquerdo do corpo, e esse equilíbrio é a verdadeira não-violência”.


2. SATYA – Verdade

Continuando a explicação de B.K.S. Iyengar observada em ahimsa, “Quando em um asana o lado direito e o esquerdo estão em harmonia, existe a verdade, que é o princípio de Satya. Você não precisa observar a verdade – você já está na verdade. Porque não está escapando ao deixar de realizar o ato do lado mais fraco”.
Satya é a verdade - em palavras, pensamentos e ações - consigo mesmo e com o outro. Para Patanjali, a falsidade gera perturbação mental, pois a todo o momento é preciso arranjar desculpas para justificar a própria mentira. Isso ocupa um espaço nobre dentro da memória, fazendo com que a mente perca tempo com inutilidades. Já quem é comprometido com a verdade ocupa seus pensamentos com coisas essenciais.

Satya é procurar sempre a verdade, independente de aonde essa busca possa nos levar. Entretanto, Vyasa escritor de Yogachasya esclarece: “A palavra pronunciada com o propósito de comunicar o próprio pensamento a outrem é verdadeira, desde que não engane ou confunda. A palavra deve pronunciar-se não para ferir, mas para beneficiar. Porque, se ferir, não produzirá harmonia, apenas sofrimento”. Praticando a verdade o praticante desenvolve a verdade em si mesmo e todos seus pensamentos e falas se tornam reais. A verdade é real. Somente a pessoa que consegue falar a verdade conhece o peso de cada palavra.

Swami Sivananda Saraswati diz: “A verdade é o acento de Deus. A verdade é Deus. A verdade sozinha triunfa. Verdade é a lei básica da natureza. Verdade é a lei da liberdade, é a falsa lei da escravidão e morte. Verdade é justiça inerente às leis éticas fundamentais. Pureza e verdade são fatores gêmeos que despertam a divindade dormente dentro de nós que nos conduz a perfeição. A verdade é o portão do reino da realização divina. Falar a verdade é a mais importante qualificação de um yogin. Ahimsa, Brahmacharya, Asteya, Aparigraha, pureza, justiça, harmonia, perdão e paz são formas da verdade”.


3. ASTEYA – Não-roubar

Não roubar, não retirar dos outros os seus pertences sem o seu consentimento, abstenção da avareza. Também significa não privar outros daquilo que devemos. Não cobiçar ou invejar bens ou conquistas de outrem, eliminar totalmente o impulso de apoderar-se de objetos ou idéias alheios, mesmo em pensamentos.

Não é roubo quando uma pequena parte da população mundial consome a vasta maioria dos recursos do planeta? Acaso não roubamos quando consumimos mais do que nos cabe?

Há modos ainda mais sutis de privar uma pessoa do que é legitimamente dela honra e reputação, por exemplo.

Asteya é não roubar, cultivo da integridade, obter e usar somente o necessário. A palavra integridade tem a mesma raiz de integral e integrativo. A partir do reconhecimento desta totalidade, plenitude, unidade, como nossa verdadeira natureza, todas as ações que executamos passam a se irradiar a partir desse conhecimento de que fazemos parte do Todo. Nesse estado de integridade tomamos do universo, do planeta, das outras pessoas, apenas aquilo que é necessário, aquilo que é suficiente, o que realmente precisamos.

Asteya significa desenvolver discernimento para utilizar somente as práticas, as ferramentas necessárias para alcançarmos nossos objetivos, tantos os relativos, e, principalmente o objetivo absoluto da liberdade.

No asana quando você está dando total atenção à realização equilibrada dos lados direito e esquerdo, não há apego ou avareza, pois quando a alma se move com inteligência no corpo, não há o que possuir nada a se buscar. A pessoa se liberta da cobiça, porque a motivação para tal desaparece. E quando a motivação se vai, o mesmo acontece com as posses, e assim o desejo de adquirir chega ao fim.


4. BRAHMACHARYA – Celibato, Castidade.

Brahmacharya é um conceito na filosofia do yoga que gera polêmica. Brahmacharya significa: celibato, estudo religioso, castidade e autocontrole, abstinência sexual, conservação da energia sexual.

Todos os tratados do yoga explicam que a perda do sêmen leva a morte, e sua retenção, á vida. Patãnjalin também enfatiza a importância da continência do corpo, da palavra e da mente. Ele explica que a preservação do sêmen produz valos e vigor, força e poder, coragem e bravura, energia e o elixir da vida: por isso, o preceito de preservá-lo por meio de um esforço deliberado da vontade.

Outros defendem que o que é proibido no Brahmacharya não são as práticas sexuais, são os vínculos particularmente dos atos reprodutores, que por suas conseqüências o ligam a sociedade que implicam riscos de concepção. Deve ser, de qualquer modo econômico com seu sêmen, consagrando-se ao estudo.

Não obstante, a filosofia do yoga não se destina apenas aos celibatários. Praticamente todos os antigos iogues e sábios eram casados e tinham família.

Brahmacharya significa simplesmente que se você deseja ser uma pessoa espiritual então deve tornar-se sempre um celibatário. No entanto, visto que seria bom que o mundo inteiro quisesse se tornar espiritual logo teríamos um planeta povoado somente de cães, gatos e vacas. Se havia alguma intenção em Deus, não creio que essa fosse uma delas. Para Iyengar controle sexual é outra coisa. Ele teve uma esposa e família e seu Brahmacharya se expressava na fidelidade a ela. Depois que ela faleceu , o seu desejo desvaneceu, e ele se tornou celibato.

O amor sexual pode ser o aprendizado para o amor universal. Iyengar diz que o amor é um investimento, e a luxúria um desperdício. A luxúria leva ao isolamento e a solidão, a deserto espiritual. Brahmacharya implica auto conhecimento, a capacidade de se controlar, seja por respeito aos outros, seja para experimentar a totalidade no asana. Não é se abster da atividade sexual. É o controle ético de uma força natural poderosa. O grau do controle dependerá do grau de evolução do praticante. Castidade e fidelidade são conceitos fundamentais.

No asana quando ocorre o alongamento total, há um profundo entendimento e uma intensa comunicação entre as cinco camadas do corpo, do físico até o espiritual, do espiritual até o físico. Assim, há controle das sensações físicas, das flutuações mentais, contemplação intelectual, e isso é Brahmacharya, significa que a alma se mova com seu ato. Quando existe união da alma com o movimento, isso é Brahmacharya.


5. APARIGRAHA – Não-cobiçar

Aparigraha significa desistir de cobiçar, considerando que a cobiça e o acúmulo causam problemas, que as coisas estão sujeitas à decadência e que a associação com elas causa desconfiança e rancor. Aparigraha é uma das virtudes mais importantes. O praticante mantém somente aqueles objetos que são essenciais para sua vida. Isso mantém a mente despreocupada e também ele não tem do que se preocupar porque não tem nada para ser protegido. Muitos exemplos são encontrados em solo indiano, sábios que caminham pela vida apenas com um pedaço de pano cobrindo seus corpos, uma cumbuca, um jarro de água e um Japa Mala (colar de contas) pendurado no pescoço. E em muitas vezes nada disso eles carregam. Nunca estão em um único só lugar. Suas mentes estão sempre livres e relaxadas e eles estão sempre prontos para exercer seus deveres. Eles são chamados de Sadhus (homens santos), muitas vezes de mendigos, mas suas riquezas interiores são infinitas.

Segundo Iyengar este Yama está associado com o terceiro, sendo não cobiçar, viver uma vida sem excessos. O caminho da cobiça leva à servidão da sensualidade e ao desejo de expandir o ego por meio de posses. Riqueza é energia, e a energia foi feita para circular. A não possessividade traduz-se em generosidade e desapego em relação não apenas aos bens materiais, mas também às relações afetivas. O apego nos tira da sintonia necessária para praticar.

O não cobiçar é definido como o hábito de não aceitar presentes, pois eles tendem a gerar o apego e o medo da perda. Assim, os yogins são encorajados a cultivar a simplicidade voluntária. O excesso de bens materiais só serve para distrair a mente. A renúncia é um aspecto essencial do estilo de vida Yogue.

O mais importante em aparigraha não é abrir mão das coisas que já realizou ou pretende realizar, conquistou ou pretende conquistar, aparigraha mesmo que império seja criado a sua volta, sua mente não esteja identificada com ele.


Namastē


Bibliografias consultadas

IYENGAR, B.K.S. A Luz da Ioga. E.d. concisa de Light on Yoga. Curix: São Paulo, 1980.
IYENGAR, B.K.S. Light on the Yoga Sutras of Patanjali. Thorsons: .Hammersmith, 1993.
IYENGAR, B.K.S. A árvore do Yoga: A eterna sabedoria do Yoga aplicada à vida diária Globo: São Paulo, 2001.
IYENGAR, B.K.S. Luz na vida: A jornada da ioga para a totalidade, a paz interior e a liberdade. B.K.S. Iyengar em co-autoria com John J. Evans e Douglas Abrams. Summus: São Paulo, 2007.
IYENGAR, B.K.S. Yoga: The path to holistic health. Dorling Kindersley: Great Britain, 2001
FEUERSTEIN, Georg. A tradição do Yoga: História, Literatura, Filosofia e Prática. Ed. Pensamento: São Paulo, 1998.
SATYANANDA, Sawami. Four chapters on freedom. Commentary on the Yoga Sutras of Patanjali. 6.ed. Yoga Publications Trust: Bihar, 2005.
SIVANANDA, Sri Swami. Bliss Divine: A book of Spiritual essays on the lofty purpose of human life and means to its achievement. 7a ed. Divine Life Society: Uttaranchal, 2001.