terça-feira, 19 de julho de 2011

Para um Inverno Acolhedor: Sopa de Cenoura com Cardamomo!

Esta é uma receita muito fácil e prática. Experimentei na casa da minha amiga super gourmet Débora e quando questionei quais eram os ingredientes fiquei pasma: apenas cenoura, cardamomo e sal. É isso mesmo, não precisa refolgar nada, colocar muitos temperos, e muito menos assassinar os legumes utilizando a panela de pressão. Como ela mesmo disse, esta sopa é o famoso menos é mais. Valoriza o sabor real da cenoura com a personalidade do cardamomo, resultando num sabor suave, agradável, acolhedor e muito saudável. Com toda certeza Ayurvedicamente correta!!


Abaixo seguem duas opções passadas por ela que funcionam! É importante que a cenoura tenha boa qualidade, fiz o teste com cenoura fresca e orgânica e com cenoura comum e velha, e a diferença é gritante. No segundo, tem a caramelização, que usa o açúcar natural da cenoura pra desenvolver sabor.

1.       Tudo na panela
Cenoura picada (umas 8 médias, para 4 pessoas), água filtrada (1,5 a 2 litros), sal marinho (2 de chá) e cardamomo (sementes de 5 ou 6 favas).
Fogo forte até ferver. Depois é reduzir ao mínimo e deixar cozinhar (uns 30 minutos)
Para dar a textura certa, é bater no liquidificador ou mixer, dosando a água aos poucos. É nessa trituração que o cardamomo libera o sabor
Finalização: ghee, pimenta recém-moída, salsinha picada ou gotinhas de creme de leite fresco. Puxa com um palito e fica bonitinho. É importante colocar um pouco de gordura, porque os carotenóides são insolúveis em água, ok?
Variações:
cozinhar junto um pouco de gengibre – quando bater, dá aquele taste picante e quente. Daí dispensa a pimenta da finalização.
Se usar caldo caseiro de legumes ao invés de água, só vai melhorar. Mas pra quem quer praticidade, dá pra fazer assim, que o cardamomo tem personalidade o suficiente. But, dá pra dar um toquinho especial fazendo um “bouquet garni” – um amarradinho com ervas aromáticas (alecrim, tomilho, louro e salsa) e colocar na água do cozimento. Tira antes de bater, é só pra dar um toque de ervas à água, mesmo.

2.       Caramelizando a cenoura
Coloca  ghee (manteiga clarificada)  na panela e doura os cubinhos/rodelas de cenoura até ficarem dourados – daí precisa ficar de olho e mexer pra não grudar no fundo. Precisa dourar, mas não pode queimar.
Segue o processo naturar – água, sal cardamomo, etc. A caramelização vai dar uma selada na cenoura, mas como ela será incorporada ao caldo, já que vai bater tudo, sem problemas.
Finalização: noz-moscada recém ralada sempre combina com cenoura, pode acrescentar sem medo.



Fácil de fazer e saudável!!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um Yogi é Sustentável!



Sustentabilidade é um conceito recente que começou a ser delineado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, e ganhou forma em 1987. Existem quatro características básicas para que um empreendimento humano se torne sustentável, são elas: ser ecologicamente correto; economicamente viável; socialmente justo e culturalmente diverso. O tema tem se tornado cada vez mais discutido e popular. Muitas empresas e pessoas estão sendo verdadeiramente tocadas pela necessidade de crescer de forma equilibrada e respeitosa. E outras, apenas tiram proveito da demanda para construirem um marketing positivo e sair na vantagem com o tema.
O Yoga é uma filosofia, ou uma cultura, que nasceu na India há cerca de 5000 anos. Apesar de ser tão antigo, esta prática se popularizou no ocidende à pouco tempo. Com um crescimento geral desenfreado das últimas décadas,  surgiu uma grande busca por ferramentas que promovem auto desenvolvimento e bem estar, e o Yoga se encaixa com sucesso neste perfil. Acontece, que muito antes de surgir o conceito de sustentabilidade, Patanjali, que escreveu a grande obra Yoga Sutras, à cerca de 2300 anos atrás, já trazia os princípios éticos de um Yogi, que hoje, se aplicam a uma vida sustentável.
Patanjali deixou um guia completo para um Yogi, sendo que os primeitos passos, as raízes e tronco da árvore, são os Yamas e Nyamas. São preceitos éticos, no qual exemplifico apenas com os dois primeiros, o quanto o caminho de um Yogi se encaixa com uma vida sustentável.  
O primeiro é o Ahimsa, a não violência, que se aplica ao termo ecologicamente correto, pois a prática da não violência exige respeito com o sistema. O segundo é Satya, a verdade aplicada em palavras, pensamentos e ações, desta forma haveria transparência nas informações, saberíamos a real origem dos alimentos e as intenções seriam muito mais verdadeiras. Com Satya com certeza o econômicamente viável e socialmente justo seria praticado.
Além desta parte mais filosófica, a vida de um Yogi é uma prática sustentável porque: não necessita, nem depende de aparelhos que consomem energia elétrica; não polui; promove saúde e qualidade de vida, portanto um Yogi vai gerar menos toxinas, lixo e poluentes para a terra e lençóis freáticos; o Yogi prioriza um consumo consciente pela busca sattva (pureza), priorizando alimentos com uma maior quantidade de energia vital, ou seja, as raízes, sementes, frutas, verduras, e é claro, de origem orgânica;um Yogi busca simplicidade, priorizando o Ser e não o Ter.
Além destes exemplos sustentáveis citados, com toda certeza, existem muitos outros que fazem parte da vida de um Yogi, principalmente busca de estar consciente de todas as ações e escolhas. Claro que não é necessário ser um Yogi para praticar o conceito de sustentabilidade, mas para ser um verdadeiro Yogi, sim, é preciso ser ético e sustentável.

É com alegria que no final de semana dos dias 4 e 5 de junho estaremos participando da programação da Virada Sustentável 2011. Daremos uma aula de Yoga com muita vitalidade, associando Yoga e Sustentabilidade no Parque da Água Branca. Sábado dia 4 às 8:00h e 16:00h.
A programação da Virada está ótima, vale a pena conferir no site www.viradasustentavel.com e participar deste movimento!!!!

Michele Chow: Naturóloga, prof.de Yoga e Terapeuta Ayurvêda

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Os Yamas

Yamas


Ashtanga Yoga – As oito Partes do Yoga



Sutra 2.29: Oito partes da disciplina do Yoga



Yamaniyamasanapranayamapratyaharadharana-
dhyanasamadhayo’stavangani

Yama: restrições, controle, disciplina;
Niyama: regras fixas, autocontrole;
Asana: posturas físicas
Pranayama: controle da respiração;
Pratyahara: abstração dos sentidos;
Dharana: concentração;
Dhyana: meditação;
Samadhi: êxtase;
Asta: oito
Angani: partes.

A disciplina, o autocontrole, as posturas, o controle da respiração, o recolhimento dos sentidos, a concentração, a meditação e o êxtase são os oito membros (do Yoga).


Sutra 2.30: Os cinco Yamas
Ahimsasatyasteyabrahmacharyaparigraha yamah

Ahimsa: não-violência;
Satya: Verdade;
Asteya: não-roubar, honestidade;
Brahmacharya: castidade, abstinência sexual;
Aparigraha: não-cobiçar, não possesividade,
Yamah: restrição, disciplina.

A não violência, a verdade, não roubar, a castidade e não cobiçar são as disciplinas.


Sutra 2.35: Frutos de Ahimsa


Ahimsapratisthayam tatsamnidhau vairatyagah

Ahimsa: não-violência;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
tatsamnidhau:
Vaira: hostilidade
Tyagah: renúncia, abandono.

Estar firmemente estabelecido na não-violência, toda a hostilidade se acaba (renunciada) em sua presença (yogin).


Sutra 2.36: Frutos de Satya

Satyapratisthayam Kriyaphalasrayatvam

Satya: Verdade;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
Kriya: ação;
Phala: frutos, resultado;
Asrayatvam: embasado, bases.

Estar firmemente estabelecido na verdade, as ações resultam em frutos, inteiramente passam a depender disto (da sua vontade).


Sutra 2.37: Frutos de Asteya

Asteya pratisthayam sarvaratnopasthanam

Asteya: não-roubar, honestidade;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
Sarva: todo;
Ratna: jóias, tesouros;
Upasthanam: apresentam-se.

Estar firmemente estabelecido em não-roubar, todas as jóias surgem (à frente do yogi).


Sutra 2.38: Frutos de Brahmacharya


Brahmacharyapratisthayam viryalabhah

Brahmacharya: castidade, abstinência sexual;
Pratisthayam: estar firmemente estabelecido;
Virya: vitalidade, indomável coragem;
Labhah: ganha, adquirida.

Estar firmemente estabelecido no celibato, ganha-se grande vitalidade.


Sutra 2.39: Frutos de Aparigraha



Aparigrahasthairye janmakathantasambodhah

Aparigraha: não cobiçar, não possesividade,
Sthairye: tornando estável;
Janma: nascimento;
Kathanta: como e de onde;
Sambodhah: conhecimento.

Estar firmemente estabelecido no não-cobiçar, o conhecimento surgirá de onde verificaram seus nascimentos.


Yamas – Restrições, Controle, Disciplina

Yama significa controle ou domínio e é composto por cinco orientações. É o código da conduta ética e moral que orienta o nosso comportamento em relação a nós mesmos, ao ambiente interno e externo, e para com toda a forma de existência. Tem origem no interior do ser humano e são um reflexo da consciência. São pré-requisitos para o trabalho espiritual, sem os quais não é possível aquietar a mente e atingir a alma. Para vivenciar Yamas é requerida tremenda disciplina interior onde o “EU” é trabalhado durante toda a vida lembrando-nos sobre nossas responsabilidades como seres sociais. Yama é um dos pilares do Yoga sustentando todos os requisitos para um trabalho espiritual.

Iyengar diz que Patanjali mostrou através dos Yamas como superar nossas fraquezas psicológicas e emocionais, e que espiritualidade não é encenar o papel de sermos sagrados, mas a paixão e o anseio internos de auto-realização e a necessidade de encontrar o derradeiro propósito da existência. Yama também significa “Deus da Morte”, e se não entendermos e seguirmos os princípios de Yamas, agimos como assassinos da alma.

Os Yamas

1. Ahimsa – Não Violência, não agressão
2. Satya – Verdade
3. Asteya – Não roubar
4. Brahmacharya – Castidade ou celibato
5. Aparigraha – Não cobiçar


1. AHIMSA – Não-violência

Entende-se como não matar, não agredir, nem causar nenhum tipo de dor a nenhum outro ser vivo. Mais do que não machucar o outro, o princípio da não violência é também evitar o mal contra si mesmo. Como por exemplo: não comer, beber, ou trabalhar demais, além de não ser violento com gestos palavras e olhares. A violência, segundo Patanjali, também é praticada quando se tem pensamentos negativos ou ao desejar que algo ruim aconteça com o outro. Esse princípio passa também pela transformação das emoções; não é responder o ódio com ódio, mas aprender a lidar com os sentimentos.

Neste preceito desenvolve-se a compaixão por todas as criaturas. No Mahabharata, um grande épico da literatura indiana, é mencionado que: “Eis a súmula de todo o dever: não faça aos outros que, se fosse feito a você, lhe causaria dor”. Paramahansa Yogananda disse que: “deve-se enxergar a bondade até no inimigo... agindo assim, você se livra do maléfico desejo de vingança que destrói sua paz mental. Plantando rancor sobre rancor, ou ódio em troca do ódio recebido, não só você aumenta a hostilidade do inimigo a você, mas se envenena física e emocionalmente com sua própria peçonha”.

Grande exemplo de devoto de Ahimsa foi Mahatma Gandhi (1869-1948), que libertou a Índia do domínio Inglês utilizando a estratégia de não-violência. Outro exemplo nos dias de hoje é XIV Dalai Lama, que sofrendo violentas e fortes ameaças da China, tem se destacado em todo o mundo transformando o Budismo Tibetano uma Religião mais conhecida e ganhando novos adeptos em todo o mundo. No ashram de Patanjali a vaca e o tigre poderia viver, comer e beber juntos porque ahimsa é praticado pelo grande sábio.

A prática do perdão auxilia no desenvolvimento de ahimsa; a prática de ahimsa desenvolve amor, e cultivar amor se dissipa himsa (violência). Ahimsa é outro nome para “verdadeiro amor”, onde existir amor existirá ahimsa. Este é o supremo dever do ser humano.

B.K.S.Iyengar explica que: “na execução de um asana, você está alongando mais o lado direito que o esquerdo. Um estado não ético está se formando em seu corpo. No lado direito há violência, pois você está indo mais longe; no esquerdo, em que o alongamento da postura é menor, parece não haver violência. Do lado direito você está sendo violento porque está dizendo: “faça o máximo que puder, estique tudo que conseguir!”. É violência pois está exagerando no alongamento. O lado esquerdo, que você não está forçando tanto, talvez traga a idéia de que não está ocorrendo violência. Mas o praticante inteligente de Ioga, observa que está conscientemente violento de um lado e inconscientemente violento do outro, e ao mesmo tempo. Com o lado direito é mais capaz e se estende mais, você está fazendo bom uso das células deste lado, o que não acontece com o lado esquerdo. Embora possa parecer não-violento, isso também é uma agressão, uma vez que as células morrem quando não realizam suas funções adequadamente. Assim, um lado manifesta uma violência deliberada e o outro não. (...) É preciso integrar os lados direito e esquerdo do corpo, e esse equilíbrio é a verdadeira não-violência”.


2. SATYA – Verdade

Continuando a explicação de B.K.S. Iyengar observada em ahimsa, “Quando em um asana o lado direito e o esquerdo estão em harmonia, existe a verdade, que é o princípio de Satya. Você não precisa observar a verdade – você já está na verdade. Porque não está escapando ao deixar de realizar o ato do lado mais fraco”.
Satya é a verdade - em palavras, pensamentos e ações - consigo mesmo e com o outro. Para Patanjali, a falsidade gera perturbação mental, pois a todo o momento é preciso arranjar desculpas para justificar a própria mentira. Isso ocupa um espaço nobre dentro da memória, fazendo com que a mente perca tempo com inutilidades. Já quem é comprometido com a verdade ocupa seus pensamentos com coisas essenciais.

Satya é procurar sempre a verdade, independente de aonde essa busca possa nos levar. Entretanto, Vyasa escritor de Yogachasya esclarece: “A palavra pronunciada com o propósito de comunicar o próprio pensamento a outrem é verdadeira, desde que não engane ou confunda. A palavra deve pronunciar-se não para ferir, mas para beneficiar. Porque, se ferir, não produzirá harmonia, apenas sofrimento”. Praticando a verdade o praticante desenvolve a verdade em si mesmo e todos seus pensamentos e falas se tornam reais. A verdade é real. Somente a pessoa que consegue falar a verdade conhece o peso de cada palavra.

Swami Sivananda Saraswati diz: “A verdade é o acento de Deus. A verdade é Deus. A verdade sozinha triunfa. Verdade é a lei básica da natureza. Verdade é a lei da liberdade, é a falsa lei da escravidão e morte. Verdade é justiça inerente às leis éticas fundamentais. Pureza e verdade são fatores gêmeos que despertam a divindade dormente dentro de nós que nos conduz a perfeição. A verdade é o portão do reino da realização divina. Falar a verdade é a mais importante qualificação de um yogin. Ahimsa, Brahmacharya, Asteya, Aparigraha, pureza, justiça, harmonia, perdão e paz são formas da verdade”.


3. ASTEYA – Não-roubar

Não roubar, não retirar dos outros os seus pertences sem o seu consentimento, abstenção da avareza. Também significa não privar outros daquilo que devemos. Não cobiçar ou invejar bens ou conquistas de outrem, eliminar totalmente o impulso de apoderar-se de objetos ou idéias alheios, mesmo em pensamentos.

Não é roubo quando uma pequena parte da população mundial consome a vasta maioria dos recursos do planeta? Acaso não roubamos quando consumimos mais do que nos cabe?

Há modos ainda mais sutis de privar uma pessoa do que é legitimamente dela honra e reputação, por exemplo.

Asteya é não roubar, cultivo da integridade, obter e usar somente o necessário. A palavra integridade tem a mesma raiz de integral e integrativo. A partir do reconhecimento desta totalidade, plenitude, unidade, como nossa verdadeira natureza, todas as ações que executamos passam a se irradiar a partir desse conhecimento de que fazemos parte do Todo. Nesse estado de integridade tomamos do universo, do planeta, das outras pessoas, apenas aquilo que é necessário, aquilo que é suficiente, o que realmente precisamos.

Asteya significa desenvolver discernimento para utilizar somente as práticas, as ferramentas necessárias para alcançarmos nossos objetivos, tantos os relativos, e, principalmente o objetivo absoluto da liberdade.

No asana quando você está dando total atenção à realização equilibrada dos lados direito e esquerdo, não há apego ou avareza, pois quando a alma se move com inteligência no corpo, não há o que possuir nada a se buscar. A pessoa se liberta da cobiça, porque a motivação para tal desaparece. E quando a motivação se vai, o mesmo acontece com as posses, e assim o desejo de adquirir chega ao fim.


4. BRAHMACHARYA – Celibato, Castidade.

Brahmacharya é um conceito na filosofia do yoga que gera polêmica. Brahmacharya significa: celibato, estudo religioso, castidade e autocontrole, abstinência sexual, conservação da energia sexual.

Todos os tratados do yoga explicam que a perda do sêmen leva a morte, e sua retenção, á vida. Patãnjalin também enfatiza a importância da continência do corpo, da palavra e da mente. Ele explica que a preservação do sêmen produz valos e vigor, força e poder, coragem e bravura, energia e o elixir da vida: por isso, o preceito de preservá-lo por meio de um esforço deliberado da vontade.

Outros defendem que o que é proibido no Brahmacharya não são as práticas sexuais, são os vínculos particularmente dos atos reprodutores, que por suas conseqüências o ligam a sociedade que implicam riscos de concepção. Deve ser, de qualquer modo econômico com seu sêmen, consagrando-se ao estudo.

Não obstante, a filosofia do yoga não se destina apenas aos celibatários. Praticamente todos os antigos iogues e sábios eram casados e tinham família.

Brahmacharya significa simplesmente que se você deseja ser uma pessoa espiritual então deve tornar-se sempre um celibatário. No entanto, visto que seria bom que o mundo inteiro quisesse se tornar espiritual logo teríamos um planeta povoado somente de cães, gatos e vacas. Se havia alguma intenção em Deus, não creio que essa fosse uma delas. Para Iyengar controle sexual é outra coisa. Ele teve uma esposa e família e seu Brahmacharya se expressava na fidelidade a ela. Depois que ela faleceu , o seu desejo desvaneceu, e ele se tornou celibato.

O amor sexual pode ser o aprendizado para o amor universal. Iyengar diz que o amor é um investimento, e a luxúria um desperdício. A luxúria leva ao isolamento e a solidão, a deserto espiritual. Brahmacharya implica auto conhecimento, a capacidade de se controlar, seja por respeito aos outros, seja para experimentar a totalidade no asana. Não é se abster da atividade sexual. É o controle ético de uma força natural poderosa. O grau do controle dependerá do grau de evolução do praticante. Castidade e fidelidade são conceitos fundamentais.

No asana quando ocorre o alongamento total, há um profundo entendimento e uma intensa comunicação entre as cinco camadas do corpo, do físico até o espiritual, do espiritual até o físico. Assim, há controle das sensações físicas, das flutuações mentais, contemplação intelectual, e isso é Brahmacharya, significa que a alma se mova com seu ato. Quando existe união da alma com o movimento, isso é Brahmacharya.


5. APARIGRAHA – Não-cobiçar

Aparigraha significa desistir de cobiçar, considerando que a cobiça e o acúmulo causam problemas, que as coisas estão sujeitas à decadência e que a associação com elas causa desconfiança e rancor. Aparigraha é uma das virtudes mais importantes. O praticante mantém somente aqueles objetos que são essenciais para sua vida. Isso mantém a mente despreocupada e também ele não tem do que se preocupar porque não tem nada para ser protegido. Muitos exemplos são encontrados em solo indiano, sábios que caminham pela vida apenas com um pedaço de pano cobrindo seus corpos, uma cumbuca, um jarro de água e um Japa Mala (colar de contas) pendurado no pescoço. E em muitas vezes nada disso eles carregam. Nunca estão em um único só lugar. Suas mentes estão sempre livres e relaxadas e eles estão sempre prontos para exercer seus deveres. Eles são chamados de Sadhus (homens santos), muitas vezes de mendigos, mas suas riquezas interiores são infinitas.

Segundo Iyengar este Yama está associado com o terceiro, sendo não cobiçar, viver uma vida sem excessos. O caminho da cobiça leva à servidão da sensualidade e ao desejo de expandir o ego por meio de posses. Riqueza é energia, e a energia foi feita para circular. A não possessividade traduz-se em generosidade e desapego em relação não apenas aos bens materiais, mas também às relações afetivas. O apego nos tira da sintonia necessária para praticar.

O não cobiçar é definido como o hábito de não aceitar presentes, pois eles tendem a gerar o apego e o medo da perda. Assim, os yogins são encorajados a cultivar a simplicidade voluntária. O excesso de bens materiais só serve para distrair a mente. A renúncia é um aspecto essencial do estilo de vida Yogue.

O mais importante em aparigraha não é abrir mão das coisas que já realizou ou pretende realizar, conquistou ou pretende conquistar, aparigraha mesmo que império seja criado a sua volta, sua mente não esteja identificada com ele.


Namastē


Bibliografias consultadas

IYENGAR, B.K.S. A Luz da Ioga. E.d. concisa de Light on Yoga. Curix: São Paulo, 1980.
IYENGAR, B.K.S. Light on the Yoga Sutras of Patanjali. Thorsons: .Hammersmith, 1993.
IYENGAR, B.K.S. A árvore do Yoga: A eterna sabedoria do Yoga aplicada à vida diária Globo: São Paulo, 2001.
IYENGAR, B.K.S. Luz na vida: A jornada da ioga para a totalidade, a paz interior e a liberdade. B.K.S. Iyengar em co-autoria com John J. Evans e Douglas Abrams. Summus: São Paulo, 2007.
IYENGAR, B.K.S. Yoga: The path to holistic health. Dorling Kindersley: Great Britain, 2001
FEUERSTEIN, Georg. A tradição do Yoga: História, Literatura, Filosofia e Prática. Ed. Pensamento: São Paulo, 1998.
SATYANANDA, Sawami. Four chapters on freedom. Commentary on the Yoga Sutras of Patanjali. 6.ed. Yoga Publications Trust: Bihar, 2005.
SIVANANDA, Sri Swami. Bliss Divine: A book of Spiritual essays on the lofty purpose of human life and means to its achievement. 7a ed. Divine Life Society: Uttaranchal, 2001.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ashtanga Vinyasa Yoga



O ashtanga vinyasa yoga é caracterizado pela execução fluida de posturas (asanas) sincronizadas com a respiração (vinyasa). A seqüência é praticada de forma lógica e equilibrada onde as posturas estão encadeadas de tal forma que a primeira prepara a seguinte, sendo a seguinte uma compensação da anterior.

A primeira série é chamada yoga chikitsa (yoga terapia). Consiste na desintoxicação do corpo e da mente. As posturas executadas nesta série são na sua maioria de anteflexão que promovem o estiramento da coluna vertebral e a pressão controlada dos órgãos abdominais. Esta série promove a mobilidade da coluna e o bom funcionamento geral promovendo uma desintoxicação orgânica que se faz sentir na melhora do sistema digestivo e excretor.

A prática de ashtanga visa o controle das flutuações da mente. Ao integrar o corpo e a mente desenvolve-se a capacidade de meditar, e estar mais presente e consciente. Sente-se então uma enorme sensação de paz e tranqüilidade que com o tempo é transferida para todas as áreas da vida.

Para que a prática seja segura e se torne eficaz é necessário aprender a respiração correta (ujjayi pranayama), os drishtis (foco ocular), bandhas (contração de determinados pontos do corpo) e vinyasa (coordenação dos movimentos com a respiração).

As aulas são supervisionadas pelo professor individualmente, que dita a forma correta de se executar as posturas de acordo com o nível de flexibilidade do aluno fazendo com que o mesmo aprenda de forma gradual e segura. É importante salientar que o aluno deve observar a sua própria prática no sentido de respeitar suas limitações avançando gradualmente através da dedicação.

O ashtanga vinyasa yoga deve ser praticado com total atenção e desapego para não cair nas armadilhas do ego. Quando o foco se torna “fechar” as posturas a qualquer custo, as lesões são inevitáveis. Por isso é necessário que a prática seja personalizada, feita com calma e amor, e adaptada para cada tipo de aluno. 


Rosangela Castellari

ro.aryoga@gmail.com
tel: 11 99124905

Rosangela dá aulas de Ashtanga Vinyasa Yoga no estilo Mysore, método tradicional transmitido individualmente a cada aluno, respeitando seus limites e restrições, em que cada praticante executa as seqüências fixas de posturas no seu ritmo, sincronizadas de acordo com a contagem de sua própria respiração, sempre com supervisão do professor.

Dia 14 de março inicia as aulas de Ashtanga Vinyasa Yoga estilo Mysore com a Professora Rosangela Castellari que acaba de retornar de uma viagem de estudos na India. Horários: 2ª, 4ª e 6ª, das 7h às 9h. Uma aula para aquecer o corpo e a alma! Reserve a sua vaga 36720322

ASHTANGA YOGA


Historicamente, não se sabe exatamente o ano que Patañjali viveu, mas foi aproximadamente entre 500 e 200 A.C., e ele costumava escrever sobre medicina, gramática e Yoga. Os Yoga Sutras, ou linhas sobre o Yoga, foram compilados por Patañjali em 196 aforismos, que tratam de todos os aspectos da vida, como um código de conduta que nos leva ao autoconhecimento. Lá, são descritos os meios de superar as aflições do corpo e flutuações da mente, que são os obstáculos para o desenvolvimento espiritual.

O livro é dividido em quatro padas, ou capítulos:
1- Samadhi pada (sobre a contemplação)
2- Sadhana pada (sobre a prática)
3- Vibhuti pada (sobre os poderes)
4- Kaivalya pada (sobre a libertação)

No capítulo I, aforismo 2, está a definição de Yoga: “yogah cittavritti nirodhah”, que significa: Yoga é o controle das flutuações da mente, isto é, manter a mente num estado inabalável em situações diversas, como dificuldades, conquistas, tristeza ou felicidade. Após definir o Yoga, Patañjali explica como atingi-lo, através de alguns métodos.

O Ashtanga Yoga, que são as oito partes que constituem a prática do Yoga, é revelado no capítulo II, aforismo 29:
- Yama (abstenção)
- Niyama (observância)
- Asana (postura)
- Pranayama (controle da respiração)
- Pratyahara (controle dos sentidos)
- Dharana (concentração)
- Dhyana (meditação)
- Samadhi (superconsciência)

Nos Sutras seguintes cada membro do Yoga é explicado detalhadamente. Todos são interligados, isso quer dizer que a prática de um membro sustenta o outro.

- Yama pode significar abstenção ou autocontrole, tem relação com nossas atitudes exteriores do dia-a-dia, isto é, a forma com que nos relacionamos com todos os seres e as atitudes que temos perante o mundo. São os valores universais, aplicados em qualquer lugar. São divididos em cinco:

  1. Ahimsa: não violência, em palavras, pensamentos e ações; não causar dano a ninguém. Quando tal atitude ocorre, não há espaço para hostilidade. Ahimsa deve ser uma atitude verdadeira e natural, e isso ocorre com a mudança de conduta do praticante, respeitando todos os seres humanos, animais e vegetais, inclusive a si próprio, em todas e quaisquer circunstâncias, e eliminando o ódio e negatividade de suas ações, bem como de seus pensamentos.
  2. Satya: verdade; ser sincero e honesto; pensamentos e palavras em conformidade com as ações. Sri Ramakrishna costumava dizer que a verdadeira espiritualidade consiste em “fazer do coração e lábios o mesmo”. A prática de satya e ahimsa estão sempre ligadas. Contudo, dizer a verdade de um fato a alguém pode ser cruel, pode machucar. Então, é importante usar o bom-senso e tomar cuidado com o que é dito. Em algumas ocasiões, é preferível manter o silêncio a dizer uma verdade severa.
  3. Asteya: não roubar, nem em ações ou em pensamentos. Não se apropriar do que não lhe pertence significa falta de desejo, de cobiça, pelas posses de outrem.
  4. Brahmacharya: continência, ou viver com Deus. Alguns interpretam como celibato. A energia sexual é uma das maiores expressões da força vital, é bastante poderosa, assim, é necessário o seu controle e canalização. Algumas pessoas, dedicadas ao ensino espiritual, optam pelo celibato como um canal de retenção da energia vital. Para outros, não significa uma renúncia a atividade sexual, e sim uma boa conduta com relação ao parceiro, usando a energia sexual de uma forma positiva, sem banalização. Há ainda o entendimento de que brahmacharya significa união com Deus, viver no caminho divino em todos os momentos.
  5. Aparigraha: falta de ganância; desapego; não cobiça com relação a posses, bem materiais e também situações, como querer muito uma postura difícil, ir além do próprio limite, conquistar algo ou alguém, etc. Aparigraha nos ensina sobre a impermanência, em que sempre queremos mais quando algo é conseguido. Dizem que o ser humano “é eternamente insatisfeito”, tal frase pode ser entendida em uma palavra: cobiça. Quando se consegue viver na ausência de cobiça, entende-se a realidade da existência através da retirada do sentimento de “meu”, “seu”, que chamamos de posse. Dessa forma, a pessoa se livra da sensação de escassez, ou falta de algo.

- Niyama são observâncias individuais, disciplinas que cada pessoa faz consigo mesma. São elas:

1.    Saucha: purificação externa e interna (ex.: banho, prática de asana e pranayama). O corpo é o instrumento de busca do conhecimento espiritual. Com a limpeza do corpo e da mente, podemos purificar nossos pensamentos, o que nos leva a não julgarmos e agirmos com mais clareza, objetividade e compaixão.
2.    Santosha: contentamento. Através do contentamento alcança-se a suprema felicidade. Santosha não trata da felicidade passageira, não significa satisfação de um desejo imediato, pois este sempre leva ao próximo, então o momento feliz sempre acaba terminando em sofrimento. Santosha mostra que a felicidade só depende de nós, não de coisas externas. Quando vemos a felicidade em todos os momentos, mesmo difíceis, estamos praticando Santosha.
3.    Tapas: autodisciplina do corpo e órgãos dos sentidos; devoção. A disciplina, através do esforço, é um caminho para o autoconhecimento. Com tapas, as impurezas do corpo e sentidos são removidas, e estes se tornam purificados. A determinação é importante ao se praticar tapas. Aqui, não significa que o praticante, ao executar uma postura, deve ir além do seu limite para fazer cada vez melhor, pois assim pode se machucar durante a prática e se frustrar. Nada em excesso é bom. Tapas é esforçar-se com prudência e dedicação, sem focar nos resultados da ação.
4.    Svadyaya: estudo de si; estudo das escrituras. A prática regular de Yoga é o auto-estudo do praticante. A prática diária é o caminho para o conhecimento dos hábitos, tendências, gostos, da verdadeira natureza do ser.
5.    Ishvara pranidhana: entrega a Deus. Com a entrega do resultado das ações ao Divino, alcança-se o Samadhi, a realização. Se a prática de Yoga é feita com devoção, existe entrega, e assim não há obrigação, e sim uma força interior muito grande, sem pensar em qualquer resultado ou desejo em atingir algo maior.

- Asana é uma postura firme e confortável. Esta é a definição de Patañjali no Sutra II, 46 (“sthira sukham asanam”). Para se obter a firmeza no asana, o praticante deve ter um total controle sobre o corpo, mantê-lo estável e sem desconforto. Somente se alcança uma postura confortável após muitos anos de prática, com constância e devoção. Através da prática de asana o praticante aos poucos atinge os outros membros do Yoga, como os Yamas e Niyamas.
Devido ao fato do corpo ser o nosso maior instrumento que podemos trabalhar diariamente, mudando sua estrutura, postura (física e também diante da vida) e padrões (samskaras), sutilmente também vamos alcançando/acessando novos níveis de consciência, quando pode ser atingido um estado meditativo. A união do esforço, concentração e equilíbrio no asana nos força a viver intensamente o momento presente, fato difícil nos dias de hoje.
O corpo é o templo da alma, então este deve se manter saudável, limpo e puro através da prática de asana, que é a ponte que une corpo e mente, e mente com a alma. Quando ocorre essa união, não há mais dualidades.

- Pranayama é o controle do alento vital; a regulação da respiração. Patañjali afirma que o quarto passo só deve ser praticado quando atingida a perfeição no asana.
Prana = força
Ayama = ascensão, expansão, extensão
Pranayama é a expansão da força vital através do controle da respiração. É constituído de três formas: inspiração, expiração e retenção, que são reguladas através da capacidade pulmonar de cada praticante.
Pranayama é um instrumento para manter a mente estável e encaminhá-la para o caminho da concentração.

- Pratyahara significa controle dos sentidos. Com a prática dos quatro membros anteriores (Yama, Niyama, Asana e Pranayama) a mente se torna apta para a meditação. Então, pratyahara é o resultado, a conseqüência dessa prática, que prepara o praticante para os próximos três passos. Em pratyahara os sentidos estão voltados para dentro, é o controle dos órgãos dos sentidos e da mente.

- Dharana – concentração da mente em um só ponto; foco; atenção.
A prática de dharana consiste em manter a mente atenta, em um estado inabalável de atenção em um só ponto. No Yoga Sutra são descritos vários métodos de concentração, que podem ser feitos pelo praticante preparado, como por exemplo, manter o foco somente na respiração.

- Dhyana significa meditação; estabilidade na concentração (dharana). Após o praticante alcançar dharana, manter a concentração, com estabilidade atinge-se dhyana, um estado permanente de meditação.

- Samadhi - estado constante de contemplação, atingido através da prática dos demais membros do Yoga. União entre sujeito e objeto de meditação.

A prática contínua destes três últimos passos (Dharana, Dhyana e Samadhi) sobre um só objeto é chamada de Samyama.

Texto: Rosangela Castellari

Bibliografia:
Yoga Mala - Sri K. Pattabhi Jois - North Point Press, 2002
Light on the Yoga Sutras of Patañjali - BKS Iyengar - HarperCollins Publishers India, 1993
Patanjali Yoga Sutras - Swami Prabhavananda - Sri Ramakrishna Math, Mylapore
Os Sutras do Yoga de Patanjali - Sri Swami Satchidananda - Gráfica e Editora Del Rey Ltda, 2000
O Yama e Niyama do Yoga Sutra de Patañjali - Matthew Vollmer
The Shambhala Encyclopedia of Yoga - Georg Feurstein – Shambhala Publications, Inc., 1997